domingo, outubro 30
Eu?
Redator-peregrino. Viciado na arte da letra. Na construção das palavras. Na musicalidade das frases. Na remissão dos pecados. Na vida eterna. Amém.
Atualizações são chuvas esparsas em locais isolados no decorrer do período. Temos Inícios para Livros, Explicações para Gírias Paulistas, Poesia, Histórias Interativas, Personagens para Livros e Diversidades em geral. Divirta-se!



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1 Quimeras:
Com uma agilidade incrível, motivada por um pensamento mórbido, o velho do realejo levantou-se da cama, abriu a gaiola e agarrou a ave com as duas mãos. Ignorando as profundas feridas em seus dedos causadas pelo violento bico do periquito, o velho conseguiu, num último esforço de energia, dar um derradeiro pulo em direção à ave. Enfim, agarrou-a com força e, com um sangue frio jamais sentido, não tardou a estrangulá-la. Sua culpa! A adrenalina baixou, o coração teimou em desacelerar. Sentou-se na cama, respirando com certa dificuldade. Quando se deu conta do que fez, foi tomado pelo pavor. Sua culpa!
Desesperado, o velho tentou sair em disparada para fora do quarto – mas não conseguiu. O estridente grito do pássaro ainda ecoava em seus ouvidos. Esbarrou em tudo quanto era coisa no caminho, inclusive no realejo que repousava verticalmente na parede. Tudo foi ao chão. A gavetinha do instrumento se abriu e, com isso, uma chuva de cartões precipitou-se no aposento. Milhares de destinos flutuando pelo ar. Nada definido, prá ninguém.
Imóvel, estirado no solo frio, o velho contemplou o final de sua missão com o realejo prendendo seu debilitado corpo no chão. E lá ficou até morrer mais uma vez, uma última vez. Se estivesse vivo, talvez pudesse ler o único cartão que persistia pairando no ambiente. Um cartão que, ainda num invejoso vôo, clamava por liberdade.
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