Como Era Gostosa A Minha Cunhada
(uma homenagem a Nelson Rodrigues)
NARRAÇÃO
Hoje contarei a história trágica de Moreira e Amanda: cunhados e adúlteros. Tudo começou sem eles perceberem, uma forte afinidade que levou a uma grande amizade. Mas como todas as amizades entre sexos opostos, esta também acabaria na alcova.
DIÁLOGO #1
AMANDA
(sussurando e gemendo) Ai, Moreira! Como eu te amo! Gostaria de viver o resto da minha vida com você, aqui em Florianópolis...
MOREIRA
Eu também, amada Amanda! Mas, infelizmente, terei que voltar aos braços de sua irmã...
AMANDA
E você acha que estarei feliz voltando aos braços do seu irmão?
MOREIRA
Poderíamos fugir, o que achas? Talvez, com esta abrupta separação, conseguiríamos juntar um casal corno e abandonado...
AMANDA
Hahahaha, Moreira, você é sujo!
MOREIRA
Hehehehehehe
NARRAÇÃO
Eusébio, marido de Amanda, contava as horas que faltavam para desfrutar da Casa de Tolerância de Maria Madalena, o mais famoso prostíbulo de Petrópolis. Enquanto Ermenengarda, esposa do Moreira, trocava confidências e carícias com sua deliciosa professora de piano, a lasciva francesinha Ann-Marie.
DIÁLOGO #2
AMANDA
Boa noite, senhor meu marido.
EUSÉBIO
Boa noite. Como foi o simpósio?
AMANDA
Como sempre. Sonolento e deveras intolerante.
EUSÉBIO
Não sei por que você insiste em participar destas apologias ao ócio, enquanto poderia estar aqui comigo, preparando meu jantar e lavando minhas roupas...
AMANDA
São os ossos do ofício, Eusébio. Este trabalho que o senhor seu irmão me empregou pode ser sacrificante, mas nos ajuda nos gastos domésticos, não é?
EUSÉBIO
Certamente.
DIÁLOGO #3
ERMENENGARDA
(enfática) Isso são horas, Moreira?
MOREIRA
Horas pra quê, estorvo!
ERMENENGARDA
(gritando e quase chorando) Horas de chegar!? Nossos filhos perguntam todos os dias onde está o pai. E você não me procura mais há meses... O que aconteceu com a nossa vida? Você tem outra, José Joaquim Moreira? Conte-me! Passo o dia inteiro trabalhando aqui dentro, cuidando da casa e dos nossos cinco filhos, enquanto você aparece só de noite, e nem tem vergonha de me chamar de estorvo?
MOREIRA
Ora, cale essa maldita boca e me deixe dormir! E reze que estou cansado o bastante para não te encher de tabefes!
ERMENENGARDA
(breve silencio. Choro contido seguido de passos.)
NARRAÇÃO
Não precisamos ouvir o meio da história para sabermos que isso não acabaria bem. Portanto, continuemos do fim: uma combinação mortal, composta por sala de jantar, dois casais adúlteros, e muitas taças de vinho...
DIÁLOGO #4
ERMENENGARDA
(gritando) Eu não posso acreditar que você estava me traindo com minha própria irmã, Moreira! E pela nossa finada mãe, nunca imaginaria um ato vil destes vindo de você, Amanda!
MOREIRA
Eu posso explicar, Ermê querida... Eu fui enfeitiçado por este súcubo que você chama de irmã! Ela cultivou este romance secreto, pois almejava um polpudo aumento de salário...
AMANDA
Você nem enrubesce ao dizer isso, maldito?! Quem começou com os gracejos, dizendo que se eu não levantasse minha anágua, eu nunca teria um novo emprego em toda a minha vida?
EUSÉBIO
Ai, meu Deus! Se eu não enfartar hoje não morro nunca mais! Meu único irmão e minha esposa?! Até onde vocês dois acharam que iriam com essa libertinagem? Moreira: até o fim de minha vida, você não passará de um verme desprezível e ordinário. Já você, Amanda, tem algo a mais para dizer, antes de sumir para sempre desta casa?
AMANDA
Estou com Chagas, Eusébio...
EUSÉBIO
Não bastava meu irmão?! Quem é esse tal Chagas para quem você também está dando, heim, sua vagabunda?!
AMANDA
Não, idiota! Peguei Mal de Chagas! Em Florianópolis, tomei caldo de cana infectado, e o médico meu deu uma semana de vida...
EUSÉBIO
Menos mal. Minha dignidade não ficará tão abalada...
AMANDA
(gritando e chorando) Sua dignidade?! Eu vou morrer em dois dias!
EUSÉBIO
Problema seu. Antes viúvo, que corno...
MOREIRA
Não fale assim com Amanda, Eusébio!
ERMENENGARDA
Não dirija a palavra ao seu irmão, Moreira! E nunca mais pise na minha casa! Darei seus pertences ao primeiro mendigo que passar na rua, e aproveitarei para dar também uma coisa que você não usa a meses!
MOREIRA
Sua porca! Imagino para quem você ainda não deu enquanto eu estava fora de casa!
ERMENENGARDA
Não fale assim comigo, monstro! Eu não mereço palavras tão duras vindas de um pária como você!
MOREIRA
Já que vou-me embora, vou te encher de tapas para nunca mais abrir esta boca, sua piranha!
ERMENENGARDA
Não se aproxime!
AMANDA
Nãããããããããão!
NARRAÇÃO
Após uma longa e triste discussão, Moreira levou um tiro fatal de seu irmão, Eusébio, que se matou em seguida, após perceber o que havia acabado de fazer. Amanda morreu dois dias depois, como havia revelado. Já Ermenengarda, herdou a fortuna do marido e da irmã, e mudou-se para São Paulo, com seus cinco filhos, e a deliciosa Ann-Marie, sua francesinha lasciva.
FIM
Junho de 2005. Um trabalho pra faculdade.
.
9 Quimeras:
Olha começar o dia lendo uma história dessas...Temos aí um roteiro não?
É um roteiro executável, sim... Foi um trabalho pra faculdade. Um programa de rádio. Gravamos as vozes e eu editei trilha e sons com o produtor. Ficou bem legal. :D
Hahahahaah eu ri! A parte mais sacana foi sem dúvida "Não sei por que você insiste em participar destas apologias ao ócio, enquanto poderia estar aqui comigo, preparando meu jantar e lavando minhas roupas..."
Bravo!!! Adoro finais felizes!!!
Ah, que droga! Pelo título, achei que fosse um post com fotos dela. Ah, que saudades...
hahahahaha sensacional! meus parabens!
Gostei dessa vida real. Imagino que ouvir isso no rádio é de morrer de rir.
Mas tinha que botar Floripa nessa patuscada?
Acho que ela pegou foi bicho de pé na praia :)
Essencialmente radiofônico, eu diria!!
Também fiz algo parecido na época de facu.
Quem sabe também não posto um dia já que voltei a atualizar meu blog.
Dá uma passada lá depois.
Abs,
REMO.
Super... gostei aos montes!! Parabéns!!
Postar um comentário
<< Página Principal