quinta-feira, outubro 26

Personagens para Livros - 10ª Pessoa

Personagem 10: Ãatá

Pequena Biografia Ambientacional:
Ãatá era um curumim que não gostava de terra. Subia nas árvores da floresta como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Queria voar que nem as araras, ou ficar no céu para sempre, que nem Jaci. Só descia das árvores quando Jacira, sua mãe, gritava com ele.

Certo dia, Ãatá saltou tanto de galho em galho que chegou até o leito de um rio. Nunca tinha visto de cima algo tão bonito, tão azul, tão vivo. Contentava-se apenas com o azul do céu, mas aquilo era diferente. Aquilo o deixava preso, por muitas horas, a observar. Para ver melhor, apoiou-se no último galho da árvore, que rompeu. Lá vai Ãatá pela força da gravidade ao chão. Bateu a cabeça com força numa pedra da margem, e dormiu por três luas.

"Por Tupã!" - gritou o pajé. "Ãatá desafiou a natureza, e parou de andar. Árvores, só observar. Agora".

Janaína, que gostava de Ãatá, resolveu carregá-lo para todos os lugares. Assim, poderia ficar mais tempo com ele. E mostrava as árvores, vistas por baixo, tentando fazer com que ele conhecesse a parte de baixo da floresta, sendo que só conhecia a parte de cima. Disse a Janaína que queria ver aquela coisa azul viva, que vira antes de cair. O que seria, senão o rio? Estava ainda lá a mesma pedra que o fez dormir. Estava lá o fim do sonho de voar. O fim do sonho de saltar de galho e galho como um macaco. O fim de tudo.

Todos os dias eles íam até o rio. Todos os dias, observavam. Todos os dias, Ãatá chorava. Um dia, ouviram outro choro. Jussara, a filha do Juari, afogava-se no rio. Janaína não sabia nadar. Ãatá disse para que o jogasse no rio. Impossível! - gritou. Nunca o jogaria naquelas condições no rio. Não queria perdê-lo. O amava. Insistiu. Disse que poderia ser a única salvação de Jussara. Janaína decidiu colocá-lo no rio.

Ãatá bravamente se mexeu como podia, e foi se aproximando da menina, que agarrou-se e subiu em suas costas. Correnteza. O rio correu mais forte. Esforço maior. Fadiga. Engolindo água, faltava apenas um metro para aproximar-se da margem. Mais força. Janaína agarrou Jussara, mas escapou Ãatá.

X X X

Do sonho de ser arara, Ãatá virou canoa. E Janaína ainda chora na beira do rio, aumentando a correnteza e criando mais cachoeiras...



Pessoas anteriores: Ícaro; Panacéia; Blub; ?????; María de las Dolores; Plink; Heptúnio; Amanda; Damião



OBSERVAÇÃO: Eu gostei tanto da palavra ãatá que resolvi inventar uma "lenda" para ela. Ãatá, em tupi-guarani, é uma canoa de casca de árvore, achatada na proa e com popa em forma de bico de pato. Ãa significa "não", "nada", e a'ta, "andar", "caminhar", "locomover-se". Portanto, em tupi, o significado literal de ãatá é "difícil de arrastar em terra". Por isso que o menino prefere voar, mas acaba no rio.

14 Quimeras:

@ outubro 26, 2006 8:18 AM, Blogger Takren disse...

Ficou bunito.

 
@ outubro 26, 2006 2:39 PM, Anonymous Anônimo disse...

Oi, André? Tudo bem,? Sou a Sandra da anhembi, estudou com vc. Gostei muito do seu blog. Entra no meu depois, ok? Tá novinho ainda.

Beijos

 
@ outubro 26, 2006 6:17 PM, Anonymous Anônimo disse...

Oh, meu amigo, que lindo isso!
Bom demais ver-te assim em palavras doces.
A-d-o-r-e-i!

bjos meus.

 
@ outubro 26, 2006 10:20 PM, Blogger mel disse...

Juro pra você que eu achei que Ãatá fosse um nome de jogo de fonemas, tipo "ahn, ah tá, volta depois.", hehehe!

Mas gostei do texto!


ps: eu sempre fico digitando o comentário de olho no gif do carinha no teclado... adoro!
:)

Somenãoviu?

 
@ outubro 26, 2006 11:59 PM, Blogger André Lasak disse...

HEHEHEHE

Eu tava querendo saber quem seria o primeiro a perceber isso...

Depois que podtei que vi a semelhança com o Ãhn, ah tá! Hehehehehe

 
@ outubro 27, 2006 12:07 AM, Blogger Bela Lachter disse...

Amei!
Mas eu sou suspeita também!!!!
beijos compostelanos e mil obrigadas pela força hoje!

 
@ outubro 27, 2006 11:41 AM, Blogger Fastolf disse...

Pobre Janaína!
E juro ter a sensação de já ter falado isso antes...

E minha dislexia anda complicando a minha vida, tenho que ler 584 vezes tudo o que escrevo, ando trocando letras e palavras.
E sem querer, o que é o pior. hahahhaa

 
@ outubro 27, 2006 3:43 PM, Anonymous Anônimo disse...

Isso ficou muito lindo!!!!
Adoro histórinhas e lendas dos nossos ancestrais,esta ficou maravilhosa...
você está sempre se superando amigo construtor das palavras...

beijinhos

ótimo final de semana!

 
@ outubro 27, 2006 3:47 PM, Anonymous Anônimo disse...

antes que vc me corrija ( meu revisor particular :) ), ignore o acento de historinha

 
@ outubro 28, 2006 2:15 PM, Anonymous Anônimo disse...

Nossa... se alguém me contasse como se fosse uma lenda indígena real, eu te juro q ia acreditar na hora... lindo e triste. Mas ainda assim lindo. Bjo

 
@ outubro 28, 2006 3:52 PM, Blogger K. disse...

adoro esses finais.

 
@ outubro 28, 2006 4:27 PM, Blogger Segunda Pele disse...

E palmas novamente pra vc! Adorei, parece aquelas histórias lendárias que a gente ouve desde pequeno.

Até mais, bom fds!!

 
@ outubro 28, 2006 7:36 PM, Anonymous Anônimo disse...

fala velho... como anda o sucesso do novo blog...
Ah... me vê um espetinho tambem...rs
abraço...

 
@ novembro 10, 2006 11:37 PM, Blogger André disse...

Maravilhosa esta narrativa de criação da canoa e do mito!

 

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