Setecentos Quilômetros: a Vontade e o Cabideiro - CAP. 11

Capítulos anteriores: 01; 02; 03; 04; 05; 06; 07; 08; 09; 10



Era uma farsa. E sua memória o salvou do pior.

CAPÍTULO 11

- Não se vanglorie de sua memória, peregrino... Se sobreviveu é porque foi merecido. Por pouco não virou pó, hi hi hi hi hi...
- Quem é você?
- Sua memória não é boa? Sei que é Heptúnio, filho do ferreiro, e muito longe de sua morada...
- Mas não me lembro de ter conversado com uma senhora cega em minha vida...
- Não conversou mesmo. Nesta vida. Hi hi hi hi hi...
- Esta risada... ela não me é estranha...
- Algumas coisas não são apagadas totalmente das mentes dos mortais, caro Ciprus. Ou posso chamá-lo de Yvana? Ou de Maeve? Ou Mildred? Khob? Zyiha?
- Prefiro Heptúnio.
- Que seja, que seja... Yvana não caberia muito bem neste novo corpo, não? Mas possui a lembrança da força e intuição da mulher arraigada em tua alma. Não se esqueça disso. Será muito importante em algumas das setecentas tarefas...
- Como sabe de todas estas coisas?
- Uma velha cega enxerga muito melhor a alma das pessoas, Heptúnio. Ainda mais quando ela é tão velha como estes campos de oliveiras... hi hi hi hi hi....
- Não me conformo na quantidade de imortais que tenho cruzado estes dias... Devo estar enlouquecendo, ou todos à minha volta estão loucos?
- A imortalidade está nos olhos de quem vê. Como não vejo, ainda me considero mortal... apenas tenho sobrevivido um pouco mais por aqui, por algum motivo que ainda não sei... Talvez estejam esperando que eu aprenda a ler... hi hi hi hi hi...
- Senhora, a conversa está interessante, mas devo continuar a caminhar por esta estrada. Ainda faltam alguns dias para o fim da minha missão.
- Não quero atrapalhar sua jornada, sete-em-um. Vá em direção ao seu destino, mas não se esqueça de virar à direita quando vir uma árvore em forma de forquilha: a estrada da esquerda, por mais que seja a correta para você, poderá ser perigosa demais. Faça algo errado a favor de sua fortuna, e viva um pouco mais do que imagina, hi hi hi hi hi...
- Sabe de algo que atrapalhe a minha missão?
- Não sei muito do futuro. Tenho apenas "visões", hi hi hi hi hi... Mas acho que você deverá acreditar mais em si mesmo, e também no que as outras pessoas dizem. Mesmo que estas coisas sejam totalmente contra o que você pensa. Vá! Continue o seu caminho! E ande com cuidado pela estrada da sua existência.

E Heptúnio continuou. Atravessou uma densa floresta, subiu uma montanha, dormiu, desceu a montanha, atravessou campos de uvas, e encontrou uma divisa na estrada. Ali, entre as duas, uma árvore em forma de forquilha. A estrada da direita era pedregosa, cheia de espinhos, árida e feia. A estrada da esquerda era verde, cheia de flores, árvores carregadas de frutas e passarinhos. Sua Vontade indicava a direção. Tudo o empurrava para a estrada da esquerda. Com exceção da velha cega. Titubeou, mas seguiu à esquerda.

Andou um dia inteiro inalando o perfume intenso das flores, apreciando todos os tipos de frutas e o canto dos pássaros. No dia seguinte, algo estranho acontecera: aos poucos, a paisagem estava se tornando árida, pedregosa, feia. Começou a pensar no que a velha havia falado, e passou a se arrepender da escolha feita. Mas já andara muito, e faltava pouco para o próximo portal. Afinal, como disse Zaratustra, não existe livre-arbítrio. O Arquiteto que faz as escolhas, e andamos por onde ele deseja. Portanto, sentia que estava na direção correta. Apenas assustou quando viu-se aproximar de um antigo cemitério.



CONTINUAÇÃO 01
Heptúnio encara a morte frente-a-frente, e trava uma batalha definitiva para a sua sobrevivência, mesmo que isso comprometa sua missão.

CONTINUAÇÃO 02
Heptúnio esquece que o sol pode ser mais traiçoeiro que qualquer coisa, principalmente quando a sobrevivência te pede água.


AGORA É A SUA VEZ!
Escolha entre a continuação 01 e 02, e aguarde: na próxima quarta-feira, mais surpresas em Setecentos Quilômetros: a Vontade e o Cabideiro - Capítulo 12!