Setecentos Quilômetros: a Vontade e o Cabideiro - CAP. 12

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Apenas assustou quando viu-se aproximar de um antigo cemitério.

CAPÍTULO 12

- Quem vem lá, vivo?
- Apareça para que eu possa vê-lo.
- Diga, que eu apareço.
- Heptúnio, o filho do ferreiro. E muito longe de sua morada.
- Você deveria ouvir o que velhas cegas têm a dizer...
- Apareça para que eu possa vê-lo!
- ...elas não dão conselhos à toa, pobre infeliz...
- O que quer dizer com isso?
- Que você errou pela sua última vez, estúpido.

De trás de uma grande árvore seca, sai o que sobrou de um homem, vestido com uma puída veste negra. Parece apenas um esqueleto, mas Heptúnio consegue enxergar algo como um corpo, nele. O cadáver levanta uma foice e parte para o ataque. O único meio de defesa é o cabideiro, que salvou-o de uma quase estocada no ombro esquerdo.

- Por que me ataca? O que fiz para você?
- Está pisando em solo morto, mas está ameaçadoramente vivo... E isto é uma ofensa dolorosa por aqui!
- Não há nada aqui dizendo que eu não deveria me aproximar...
- Mas foi avisado por um mensageiro, e não obedeceu! Agora tua morte faz parte deste chão!
[Tchac!]
- Aaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhh!

Heptúnio leva uma estocada na coxa direita, e cai ao chão. Não larga do cabideiro, que o salva de dezenas de novos ataques. Sentindo fortes dores na coxa, e observando como se defender do avanço da foice, tenta desesperadamente pensar num meio de se salvar, ou destruir o seu algoz. Pensa em sua vida, no que já passou até agora, e o que já conquistou. Pensa em seus pais e irmãos, amigos e inimigos, quereres e amores. E pensou em Marseille, e o quanto gostaria de estar vivo para vê-la apenas mais uma vez. Foi aí que lembrou-se do presente do mago, e tentou, com dificuldade, tirá-lo do embornal sem largar o cabideiro. Ao apontar a taça para o esqueleto, seus olhos vasados e fundos brilharam assustadoramente. Tudo tremeu, e algumas fissuras apareceram no chão. O esqueleto, em pedaços, sumiu por um vão na terra seca.

Heptúnio ficou alguns minutos ali, na mesma posição, como em choque. Levantou com dificuldade, e foi arrastando-se tomar o caminho de volta. Por ali, não havia mais continuação. De árida, a paisagem foi mudando, e ao entrar novamente na floresta, descobrira uma nascente aonde renovou a água da cabaça, e lavou a ferida da coxa usando a taça. A dor aliviou muito com isso, e continuou. Três dias depois reencontra a árvore em forma de forquilha, e pega o caminho da direita, o caminho dos pedregulhos e espinhos. O caminho que é a vida. O caminho que atravessamos com dificuldade, para conquistar o que merecemos. E o terceiro Portal da Sabedoria atravessou, mais três dias depois. Ali descobriu porque teve que enfrentar a morte. Ali descobriu que, além de ouvir seu coração, deve-se ouvir o coração alheio. Que em quase todas as belezas fáceis, podemos encontrar armadilhas. Mas entendendo os sinais, podemos saltá-las eficientemente.

Senta-se numa pedra para descansar e comer um pão quase azedo. Respira fundo, e olha para o caminho da sétima e última Porta. Mais quatro dias, e mais uma das setecentas tarefas estará cumprida. Lá, no horizonte, observa um vulto, caminhando calmamente em sua direção.


CONTINUAÇÃO 01
Um sujeito muito gordo traz palavras que transcenderão suas expectativas.

CONTINUAÇÃO 02
Uma mulher com vestes sagradas traz palavras que causarão certo espanto.


AGORA É A SUA VEZ!
Escolha entre a continuação 01 e 02, e aguarde: na próxima quarta-feira, mais surpresas em Setecentos Quilômetros: a Vontade e o Cabideiro - Capítulo 13!